5 Melhores Poemas de Ferreira Gullar – Parte 1

POESIA BRASILEIRA: uma breve história Ferreira Gullar (1930-2016) foi um notável poeta, ensaísta e autor de teatro do Brasil. Ele se chamava José Ferreira Gullar e nasceu em São Luís, capital do Maranhão, em 10 de setembro de 1930. Gullar teve uma vida caracterizada por um intenso percurso artístico e político, sendo amplamente admirado pela sua poesia, que aborda temas sociais, políticos e existenciais do Brasil e do mundo.

 

Carreira Literária

A trajetória literária de Ferreira Gullar começou na década de 1950, com a divulgação de seus primeiros poemas, que rapidamente conquistaram o interesse do público e da crítica literária. Ele se destacou como um dos expoentes do Concretismo, uma corrente literária que buscava uma poesia mais “objetiva” e menos vinculada a sentimentos pessoais. Contudo, Gullar também se destacou como um dos principais opositores deste movimento, desenvolvendo ao longo de sua trajetória uma escrita mais comprometida e filosófica.

Dentre seus trabalhos mais significativos, destacam-se:

“Poema Sujo” (1975);
“Cantos de Solidão” (1999);
“Na Vertigem do Dia” (2002);
“O Vermelho e o Negro” (2008).

 

1 – O Mundo é uma Coisa Só
O mundo é uma coisa só.
A árvore, o homem, a flor,
o amor, a tristeza, o sol,
a terra, a lua, a fome, o medo,
a morte, o desejo,
a música, o silêncio,
o grito, o riso, o choro,
a poesia.

 

Nada se pode separar.
Tudo é um só, tudo é tudo.
O que se diz é o que se cala,
o que se vê é o que se sente,
o que se toca é o que se ouve,
o que se sabe é o que se ignora.

 

O mundo é uma coisa só,
não se pode dividir,
não se pode fragmentar.

E ao mesmo tempo, tudo é tudo,
e ao mesmo tempo, nada é nada.

 

O mundo é uma coisa só.
E em sua totalidade, é o que somos.

 

Ferreira Gullar escreveu o poema “O Mundo é uma Coisa Só” em 1959. Este poema expressa a visão de Gullar sobre a percepção de um mundo interligado e a realidade de que tudo está sempre em movimento e mudança, tratando de assuntos como a solidão e a procura por um propósito na vida.

O poeta usa frases assertivas para assegura que o mundo, de fato, é uma coisa só. Ele afirma: “Nada se pode separar. / Tudo é um só, tudo é tudo. / não se pode dividir, / E em sua totalidade, é o que somos”. Para o poeta, tudo é uma só coisa no mundo. Talvez ele tenha lido Whitman.

No famoso livro Leaves of Grass, o poeta norte-americano Walt Whitman explora a noção de unidade entre o indivíduo e a totalidade. Ele manifesta uma perspectiva de que a humanidade está interligada a tudo ao seu redor, seja a natureza, os demais ou o universo.

Whitman afirma:  “Eu sou grande! Eu contenho multidões.”

 

2. A Máquina do Mundo
O mundo era uma máquina
um grande mecanismo
fechado e perfeito.
Eu o vi, eu o toquei.

 

Compreendi seu funcionamento,
como se o tivesse montado,
parte por parte,
cada engrenagem,
cada parafuso,
cada poro,
cada movimento.

 

Mas, ao apertar uma alavanca,
ao girar uma chave,
o mundo se desfez,
e, de repente, não havia mais nada
senão o silêncio e a poeira
das coisas que se vão.

 

E então fiquei parado,
olhando para as mãos
que um dia tocaram o universo,
sem saber o que fazer
com a dor do que vi.

 

Ferreira Gullar escreveu o poema “A Máquina do Mundo” em meados de 1954. Ele fez parte de um período de intensa explosão poética na vida do escritor.
Gullar estava naquele momento em processo de desvinculação do Parnasianismo, corrente literária que valorizava a estética formal e a precisão técnica. Ele estava aderindo aos princípios do Modernismo.

No poema anterior, vimos Gullar dizer que o mundo é uma coisa só, contudo, aqui ele parece ver o mundo desabar. A máquina de um mundo perfeito está se destruindo. Ele afirma: “O mundo era uma máquina / um grande mecanismo / fechado e perfeito. / o mundo se desfez,  / e, de repente, não havia mais nada /
senão o silêncio e a poeira.

O silêncio entrou nesse mundo perfeito que fora destruído “ao apertar da alavanca / ao girar uma chave”.

 

3. Meus Poetas

 

Meus poetas não morreram.
Estão vivos em mim
como a certeza de um amanhã,
como o sangue que circula nas minhas veias,
como a angústia de ser e de não ser.
Estão vivos em mim,
e os carrego na alma
como uma semente que brota a cada instante.

 

Eu os ouço nas horas de solidão,
no silêncio da noite,
quando o mundo parece estar em suspenso.
Eu os vejo nas sombras da rua,
nas imagens fugidias da vida,
nos gestos cotidianos das pessoas.

 

Meus poetas não morreram.
Eles vivem dentro de mim,
como um grito que não se cala,
como um suspiro que não se apaga,
como um amor que se renova.

 

Eles são meu espelho e minha sombra,
minha luz e minha escuridão.
Eu sou, por sua causa,
mais poeta e mais homem.
Meus poetas não morreram,
estão vivos em mim.

Nesse poema, Gullar faz uma rememoração dos poetas que lhe fizeram ser poeta, de como isso lhe afeta. Destaco 4 versos:  “Meus poetas não morreram. / Eu os ouço nas horas de solidão, / Eles vivem dentro de mim, / como um grito que não se cala, / Eles são meu espelho e minha sombra,”.

Gullar afirma que os poetas, os seus poetas preferidos, não estão mortos, ao contrário, eles falam na solidão da noite . Eles vivem  dentro dele e marcam lhe a vida e os escritos como um grito de assombro e de alumbramento. E, não obstante, os poetas lhe ajuda a refletir sobre seus passos e vida.

Octavio Paz afirma que “O poeta recria a tradição; cada poema é único, mas está ligado a todos os outros.” Parece-me que o poeta Gullar está vendo e relendo a influência que seus poetas  tem sobre si, como um ‘espelho e sobra’.

 

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