Livro A cor do invisível de Mario Quintana

A cor do invisível foi publicado por Mario Quintana em 1989. É um título intrigante, que leva o leitor a refletir e pensar no conteúdo que se verá em cada página. Há uma associação de termos contraditórios, que nos leva a pensar em Manoel de Barros e em outros poetas brasileiros.

 

Mario Quintana

O poeta nasceu em 30 de julho na cidade de Alegrete no Rio Grande do Sul. Seu pai, Celso de Oliveira Quinta, era farmacêutico.

A Rua dos Cataventos foi publicado em 1940, sendo este o seu primeiro livro de poesias, o livro contém sonetos de influência do parnasianismo. Canções, de 1946, é sua segunda obra de poemas, nele há poemas que expressam uma maior liberdade formal do que sua primeira obra, tendência que permaneceu e marcou sua produção poética.

Mario Quintana também se dedicou à tradução, chegando a traduzir mais de 130 obras, entre elas o famoso romance Em busca do tempo perdido, de Marcel Proust, e Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf. Também traduziu Guy de Maupassant, Aldous Huxley, Somerset Maughan e Joseph Conrad.

Ele também foi redator no jornal O Estado do Rio Grande, e colaborava com a Revista do Globo.

O poeta falece em 5 de maio de 1994.

 

A cor do invisível

Fabrício Carpinejar, analisando este livro e o poeta, afirmou que o poeta tem “o perfil dos poetas provocadores, que sentam na mesa de jantar para cumprir o papel de advogado do diabo”.

Ao ler o livro, de fato, o leitor encontrará essa veia nonsense. No poema O silencio, o poeta afirma que “o meu reino não é deste mundo! / Nem do outro…”, deixando o leitor apenas com o suspense e indagações, uma vez que a lógica não funciona, assim como em a cor do invisível. O poeta caminha contra o consensual e a unanimidade. Ele se expressa através do conflito e na comparação de coisas improváveis. “O que já é costume não é bom para poesia”.

 

Neste livro, o poeta escreve sobre sua arte:

 

Eu escrevo é para o João e a Maria,

Que quase sempre estão em situação crítica!

E por isso as minhas palavras são quotidianas como

                              [o pão nosso de cada dia

E a minha poesia é natural e simples como a água

                              [bebida na concha da mão.

 

Observa-se que o escritor quer se comunicar com todos. Sua poética quer ser corriqueira, do dia a dia, fazendo com que cada leitor o entenda. E o livro caminha entre o cotidiano e o que está bem distante, as ambiguidades e contradições.

 

Algumas lições

O primeiro poema do livro, Hoje é outro dia, começa com o tema de renovação das coisas:

 

Quando abro cada manhã a janela do meu quarto

É como se abrisse o mesmo livro

Numa página nova…

 

No poema, observa-se que é outra página, mas é o mesmo livro. Sim, de fato, é outro dia, mas é a mesma vida. Hoje, em suma, é outro dia da mesma vida. As coisas se renovam a cada manhã, a vida vai seguindo seu curso, e cada dia é uma página nova onde devemos escrever nossas histórias.

E o poeta continua, parece que dando conselhos ao leitor sobre a renovação do dia:

 

No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas

Que o vento não conseguiu levar:

Um carinho no momento preciso

O folhear de um livro de poemas

O cheiro que tinha um dia o próprio vento.

 

A cada renovo, recomeço, o leitor é instruído pelo poeta a dar carinho no momento certo, guardar o folhear de um bom livro e o cheiro de um dia lindo. Quem sabe, aqui se pode lembrar de Djavan e sua canção Nem um dia. Onde o cantor encanta cantando: Um dia frio / Um bom lugar pra ler um livro / E o pensamento lá em você/ Eu sem você não vivo.

 

O livro começa falando sobre renovo, e termina com uma Oração:

 

Dá-me a alegria
Do poema de cada dia.
E que ao longo do caminho
Às almas eu distribua
Minha porção de poesia
Sem que ela diminua…
Poesia tanta e tão minha
Que por uma eucaristia
Poesia eu fazê-la sua
“Eis minha carne e meu sangue!”
A minha carne e meu sangue
Em toda a ardente impureza
Deste humano coração…
Mas, ó Coração Divino,
Deixai-me dar de meu vinho,
Deixai-me dar de meu pão!
Que mal faz uma canção?
Basta que tenha beleza…

 

É isso. O livro é maravilhoso, tem seus altos e baixos, mas recomendo sua leitura. E desejo que não nos falte “a alegria
Do poema de cada dia”.

 

Ouça o poema no link: https://youtube.com/shorts/2DWW6D1zZo0

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