Os 5 melhores poemas de Fernando Pessoa

Sim, eu sei que é muito pretensioso este post. Pessoa tem centenas de poemas maravilhosos. Contudo, aqui destacaremos apenas 5, que na minha modesta opinião, são os melhores. Antes, um pouco sobre esse grande poeta.

 

FERNANDO PESSOA

Fernando António Nogueira Pessoa nasceu em Lisboa no dia 13 de Junho de 1888. Sua mãe, Maria Madalena Pinheiro Nogueira Pessoa, e seu pai, Joaquim de Seabra Pessoa.

Com apenas cinco anos, Fernando perde o pai, vítima de tuberculose, mas ganha um irmão chamado Jorge e que também veio a falecer no ano seguinte.

Ainda novo, Pessoa escreve seu primeiro poema, a 26 de julho de 1895, que se tem conhecimento, o qual levara o título de À minha querida mamã e o recita para sua mãe:

 

Ó terras de Portugal

Ó terras onde eu nasci

Por muito que goste delas

Inda gosto mais de ti.

 

Quando Pessoa morou na África do Sul, ele recebeu uma educação inglesa, por isso seus primeiros textos foram escritos nessa língua. Alguns escritores e poetas que o influenciaram, tais como: Shakespeare, Edgar Allan Poe, Jonh Milton, Lord Byron, Jonh Keats, Percy Shelley, Walt Whitman, Charles Dickens, entre outros.

 

5 POEMAS QUE MAIS GOSTO DE PESSOA

O poema que mais gosto de Pessoa é ISTO:

 

Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.

Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.

Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!

 

Ouça este poema, acesse: https://www.youtube.com/watch?v=-VcwWfv4J9o

 

TABACARIA

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa,
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei-de pensar?

 

Ouça o poema Tabacaria no link: https://www.youtube.com/watch?v=91LIqB5GR5E

 

 

AUTOPSICOGRAFIA

O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

 

Assista o poema, acesse: https://www.youtube.com/watch?v=WONSZFVs-Sk

 

TODAS AS CARTAS DE AMOR…

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas).

 

Para ouvir esse poema, acesse: https://www.youtube.com/watch?v=WONSZFVs-Sk

 

 O INFANTE

Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.

Deus quis que a terra fosse toda uma,

Que o mar unisse, já não separasse.

Sagrou-te, e foste desvendando a espuma.

E a orla branca foi de ilha em continente,

Clareou, correndo, até ao fim do mundo,

E viu-se a terra inteira, de repente,

Surgir, redonda, do azul profundo.

Quem te sagrou criou-te português.

Do mar e nós em ti nos deu sinal.

Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.

Senhor, falta cumprir-se Portugal!

 

Para ouvir esse poema, acesse: https://www.youtube.com/shorts/DUl4zIQFd3Y

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