Poemas para o PAS-UnB 1º Etapa Parte 1

Aqui estão 6 dos poemas exigidos pela UnB para o Pas 1º Etapa. Eis os poemas e seus respectivos autores: Senhora minha, desde que vos vi de Afonso Fernandes; Vamos, irmã, vamos dormir de Fernando Esquio; Dom Fulano, que eu sei que tem fama de covarde de Afonso Mendes de Besteiros; Maria Peres se confessou dia desses de Fernão Velho; Se amor não é qual é este sentimento? De Francesco Petrarca e Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades de Luís de Camões.

 

Boa leitura!

 

1. Senhora minha, desde que vos vi – Afonso Fernandes

Senhora minha, desde que vos vi,

lutei para ocultar esta paixão

que me tomou o coração;

mas não o posso mais e decidi

que saibam todos o meu grande amor,

a tristeza que tenho, a imensa dor

que sofro desde o dia em que vos vi.

 

Quando souberem que por vós sofri

tamanha pena, pesa-me, senhora,

que por vossa crueza padeci,

eu que sempre vos quis mais que ninguém,

e nunca me quisestes fazer bem,

nem ao menos saber o que eu sofri.

E quando eu vir, senhora, que o pesar

que me causais me vai levar a morte,

direi, chorando minha triste sorte:

“Senhor, por que me vão assim matar?”

E, vendo-me tão triste e sem prazer,

todos, senhora, irão compreender

que só de vós me vem este pesar.

 

Já que assim é, eu venho vós rogar

que queiras pelo menos consentir

que passe a minha vida a vos servir,

e que possa dizer em meu cantar

que está mulher, que em seu poder me tem,

sois vós, senhora minha, vós, meu bem;

graça maior não ousarei rogar.

 

2. Vamos, irmã, vamos dormir – Fernando Esquio

Vamos, irmã, vamos dormir

nas margens do lago, onde eu vi andar,

a caçar as aves o meu amigo.

 

Vamos, irmã, vamos descansar

nas margens do lago, onde eu vi andar,

a caçar as aves o meu amigo.

 

Nas margens do lago, onde eu vi andar

com seu arco nas mãos as aves a ferir,

a caçar as aves o meu amigo.

 

Nas margens do lago, onde eu vi andar

com seu arco nas mãos a atirar,

a caçar as aves o meu amigo.

 

Com seu arco nas mãos as aves a ferir,

as que cantavam as deixava partir,

a caçar as aves o meu amigo.

 

Com seu arco nas mãos às aves atirar,

as que cantavam não as queria matar,

a caçar as aves o meu amigo.

 

3. Dom Fulano, que eu sei que tem fama de covarde – Afonso Mendes de Besteiros

 Dom Fulano, que eu sei

que tem fama de covarde,

vejam o que fez durante a guerra

– disto estou certo:

logo que viu os cavaleiros mouros,

como boi ferroado por moscão,

sacudiu-se e remexeu-se,

levantou o rabo e fugiu

para Portugal.

 

Dom Fulano, que eu sei

que tem fama de leviano,

vejam o que fez durante a guerra

– disto estou certo:

logo que viu os cavaleiros mouros,

como um bezerro novo,

sacudiu-se e remexeu-se,

levantou o rabo e fugiu

para Portugal.

 

Dom Fulano, que eu sei

que tem fama de medroso,

vejam o que fez durante a guerra

– saibam que é verdade:

logo que viu os cavaleiros mouros,

como um cão que sai da corrente,

sacudiu-se e remexeu-se,

levantou o rabo e fugiu

para Portugal.

 

4. Maria Peres se confessou dia desses – Fernão Velho

Maria Peres se confessou dia desses,

pois sentiu-se pecadora

e logo Nosso Senhor prometeu,

pelos pecados que cometeu,

que tivesse um clérigo sob sua proteção,

pelos pecados que o demônio lhe fez cometer,

e com quem ela sempre andou.

 

Confessou-se, porque diz que se

achou muito pecadora,

porém, rogadora foi logo a Deus,

pois antes guardar a Deus do que ao demo.

E enquanto viva diz que quer ter um clérigo,

com quem possa se defender

do demo, que sempre a guardou.

 

E depois que viu bem seus pecados,

Ela teve muito medo de sua morte

e teve muito prazer em pedir esmolas.

E logo então um clérigo arranjou

e deu-lhe a cama em costumava dormir só.

E diz que o manterá enquanto viver,

o que fará enquanto filha de Deus for.

 

E depois que este pacto começou

entre ambos houve grande amor

para sempre maior do que o amor

que havia entre ela e o demônio,

até que Balteira se confessou.

Mas depois que o demônio viu cair o clérigo

entre ambos, o demônio ficou a perder,

a partir do momento em que ela se confessou

 

5. Se amor não é qual é este sentimento? – Francesco Petrarca

Se amor não é qual é este sentimento?

Mas se é amor, por Deus, que coisa é a tal?

Se boa por que tem ação mortal?

Se má por que é tão doce o seu tormento?

 

Se eu ardo por querer por que o lamento

Se sem querer o lamentar que val?

Ó viva morte, ó delicioso mal,

Tanto podes sem meu consentimento.

E se eu consinto sem razão pranteio.

A tão contrário vento em frágil barca,

Eu vou por alto-mar e sem governo.

É tão grave de erro, de ciência é parca

Que eu mesmo não sei bem o que eu anseio

E tremo em pleno estio e ardo no inverno.

 

6. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades – Luís de Camões

 Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,

Muda-se o ser, muda-se a confiança;

Todo o mundo é composto de mudança,

Tomando sempre novas qualidades.

 

Continuamente vemos novidades,

Diferentes em tudo da esperança;

Do mal ficam as mágoas na lembrança,

E do bem, se algum houve, as saudades.

 

O tempo cobre o chão de verde manto,

Que já coberto foi de neve fria,

E em mim converte em choro o doce canto.

 

E, afora este mudar-se cada dia,

Outra mudança faz de mor espanto:

Que não se muda já como soía.

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